terça-feira, 27 de julho de 2010

O Hatha-Yoga

As origens do Yoga se perdem no tempo. Arqueólogos apontam para uma data próxima à 5 mil anos A.C.

No entanto, os textos sagrados indianos afirmam que essa prática já existia “antes da manifestação do Universo”.

Yoga e espiritualidade sempre estiveram ligadas e não poderão ser separadas. Quando isso ocorrer, o Yoga deixa de existir.

A palavra YOGA vem do sânscrito, antiga língua indiana. Ela vem da raiz yuj que significa “unir” ou “unidade”. Portanto, podemos traduzir a palavra YOGA como “União” ou a busca dessa união (que no contexto original remetia à união com Deus).

Ao que parece, a prática do Yoga que nós conhecemos hoje foi desenvolvida como parte da civilização tantrica queexistiu na Índia e em outras partes do mundo.

É dito que foi o próprio Senhor Shiva o fundador do Yoga e que sua esposa, Parvati, foi sua primeira discípula.

Shiva é a representação corporal do Absoluto ou Consciencia Suprema. Parvati representa a Sabedoria Suprema ou o Poder Criativo da Consciencia. Assim, Parvati também é conhecida como Shakti e, como Poder Divino, permanece latente em todos os seres vivos.

Por ser a representação do Poder Criativo, Parvati é tida como a Mãe de todo o Universo, sendo suas diversas manifestações físicas conhecidas como Mãe Divina. A prática do Yoga e do Tantra são ligadas, assim como a Consciência (Shiva) e seu Poder Criativo (Parvati, Shakti). Todas as técnicas do Yoga tem sua fonte no Tantra. Tantra é uma palavra do Sânscrito que tem sua origem em duas palavras: tanoti e trayati, respectivamente “expansão” e “liberação”. Assim, vemos que o Tantra é a prática de expandir a percepção da Consciencia e de liberação da energia da Consciência e em nada tem a ver com os cultos grosseiros de “sexo ritualizado” tanto difundido no ocidente. Seu objetivo prin­cipal é proporcionar a liberação da alma das garras do mundo ainda enquanto se vive nele. No princípio as técnicas do Yoga eram passadas de mestre (aquele que vivenciou a técnica, que a experimentou e a realizou, compreendendo todos os detalhes da mesma) e discípulo (aquele que desejava de fato realizar e experienciar essas técnicas). As práticas eram feitas na solidão, longe dos olhos do público. Os primeiros registros escritos sobre o Yoga estão nos antigos Tantras e nos Vedas mas esses apenas aludiam sobre a prática, sem dar nenhuma técnica específica. Esses textos, segundo dizem os sábios, foram percebidos em estados de profunda meditação que causava a expansão da percepção da Consciência ou samadhi e são tidas como escrituras reveladas

O desenvolvimento real do yoga começou com os Upanishads, série de textos que reunidos, são chamados de Vedanta e podem ser considerados como a essência dos Vedas. Uma das traduções possíveis para a palavra vedanta é “conhecimento interior”. Enquanto os Vedas tratam em sua maior parte do “conhecimento exterior”, ou seja, dos rituais, cantos, mantras, etc., os Upanishads tratam da percepção interior, da reforma íntima, enfim, do interno.

A forma final e definitiva do Yoga foi codificada pelo sábio Patanjali em seu Yoga Sutras, um tratado sobre o Raja Yoga ou Yoga Real. Seu sistema também é conhecido como Yoga Dos Oito Passos (Ashtanga Yoga). Os oitos passos são: Yama (auto restrições), Niyama (auto observâncias), Asana, Pranayama, Pratyahara (práticas para a abstração da consciência do mundo exterior), Dharana (concentração), Dhyana (meditação) e Samadhi (unificação ou identificação com a Pura Consciência).

Mas a prática foi sendo modificada com o passar do tempo.

Com o advento do Senhor Buda no século 6 A.C., os ideais de meditação, ética e moralidade tomaram a frente da prática e os estágios preparatórios foram abandonados.

No entanto, esse método foi logo refutado pelos sábios e pensadores indianos que diziam que sem a purificação do corpo e de seus elementos a meditação não seria atingida.

Assim, Matsyendranath, um renomado e realizado yogue fundou o culto Nath e seu discípulo Gorakhnath escreveu vários textos e livros sobre hatha-yoga ou o yoga do bem estar físico.

Mais adiante, uma das maiores autoridades em hatha-yoga, Swami Swatmarama, escreveu o Hatha Yoga Pradipika ou “Luz Sobre o Hatha Yoga”. Em sua obra, Swatmarama reduziu a ênfase nas práticas do Yama e Niyama, alegando que somente com o corpo purificado e com a mente mais estável e equilibrada que o auto-controle e a auto-disciplina poderiam ser praticadas.
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As Ásanas

A tradução mais comum dada à palavra ásana aqui no ocidente é postura. No entanto, essa é uma tradução literal, que esconde o verdadeiro significado, muito mais profundo e abrangente.

De fato, ásana é um estado de espírito no qual a pessoa pode permanecer fisicamente e mentalmente firme, calmo quieto e confortável.

Assim, podemos verificar que a simples execução de um movimento corporal, o contorsionismo simples, não constituem o que em yoga se chama de ásana.

Quando um praticante ou adepto está em sua rotina diária de ásanas, ele deve verificar se a cada dia sua mente e corpo se tornam mais firmes, confortáveis, calmas e quietas. Mais que isso: deve verificar se tudo isso ocorre de forma natural e não forçada.

Dominar ou saber fazer um ásana não é se estabelecer na postura simplesmente, mas sim verificar e atingir o estado de quietude, calma e paz em todos os aspectos da existência enquanto se está no ásana.

Quando isso for atingido, ai sim podemos dizer que dominamos esse ou aquele ásana.

De maneira comum, costuma-se associar as ásanas a posições corporais específicas que abrem os canais de energia e os centros psíquicos, conhecidos como nadis e chakras respectivamente.

De uma forma simplista, podemos dizer que as ásanas produzem o “ajustamento” da conversa entre o corpo físico, o corpo espiritual e mental, fazendo com que a ordem seja reestabelecida nesses três pontos.

As Yogásanas, como também são conhecidas, são ferramentas para se atingir um grau mais elevado de lucidez, o que promoverá a fundamentação necessária para a exploração da mente, corpo e o que quer que seja que entre em contato com o praticante.

Em algumas escrituras yogues se diz que o número de ásanas é de 8.400.000, sendo esse número o número de cada encarnação que o ser precisa para se liberar do ciclo de nascimentos e mortes a que está preso.

Mas dessas posturas, somente algumas centenas são usadas e dessas apenas 84 tem releveante importância.

Pela prática lúcida dessas ásasnas é possível refrear e até mesmo não ser atingido pelo processo cármico, dando vários passos evolutivos em uma única vida.
Mas esse processo ocorrerá sempre se o praticante compreender os processos mentais advindos das aberturas energéticas e consciencias que os ásanas podem proporcionar.

Os antigos sábios e hatha yogues, observaram os animais e adaptaram muitas das posturas que os animais usavam pararelaxar em suas práticas de yogasanas. É por isso que muitas delas possuem nomes de animais.

Pela experiência direta esses sábios puderam comprovar os efeitos dessas ásanas no controle das secreções hormonais, no sistema nervoso e imunológico do corpo.

Com isso todo o corpo foi ganhando em equilíbrio.

Eles também perceberam que a rigidez do corpo estava intimamente associada ao bloqueio da energia vital, chamadana Índia de prana, de chi na China e de ki no Japão e ao acúmulo de toxinas advindas da má alimentação e respiração.

Essa energia vital permeia todo o corpo e é responsável direta pela energia diretora do processo de divisão celular.
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As ásanas diferem em muito das atividades físicas convencionais.
Enquanto as atividades físicas convencionais estimulam o consumo do oxigênio, as posturam visam a diminuição do consumo.

Isso ocorre através da regularização da respiração e da associação de cada movimento à respiração.
Essa associação da respiração com os ásanas promovem a otimização do uso da energia vital ou prana, tornando o corpo forte, disposto e a mente clara e lúcida.

Muitas vezes as ásanas são divididas em três grupos a saber: iniciante, intermediário e avançado.
No entanto, ao contrário do que se é ensinado na maioria das escolas, uma postura de difícil execução não é necessariamente avançada e uma de fácil execução não é necessariamente uma postura iniciante.

Cada postura movimenta as bioenergias de forma específica.
Assim, existem posturam que são de desbloqueio energético, outras de captação de energia, outras de expansão do campo energético, outras de movimentação e ainda outras para expulsar "detritos" energéticos.

A seqüenciação de posturas, quando feita, deve ser caracterizada pela utilização de posturas encaixadas de forma coerente de acordo com sua especificidade. De outra forma, poderemos estar espalhando "sujeira" pelo corpo, pois, por exemplo, podemos fazer posturas que liberam energias mais densas e em seguida fazer outra de movimentação de energia.
Nesse caso estaremos apenas movimentando a energia densa pelo corpo, correndo o risco de estacioná-la sobre uma região mais debilitada do corpo, ocasionando o efeito negativo no corpo, como a possível manifestação de doenças.

A única seqüencia "chancelada" pelos sábios antigos e portanto segura é a Saudação ao Sol.
E mesmo ela deve ser praticada com cuidado, pois pode ser prejudicial para pessoas com pressão alta, trombose e problemas cadíacos, por exemplo.

De fato, a prática de ásanas devem ser acompanhadas por um instrutor qualificado, mesmo que as posturas sejam de simples execução, pois como já foi dito, elas são muito mais do que meros movimentos corporais.
São chaves de abertura de certos processos emocionais e mentais também.
Mas não há por que temer a prática. Basta munir-se de discernimento e ponderação.
Respeite seu corpo e seus limites, sejam eles físicos, emocionais ou mentais.
Lembre-se: Yoga não é ginástica e qualquer prática que lembre isso, se afasta da real essência do Yoga.

Procure um bom instrutor. Converse com ele. Observe sua índole e convicções espirituais.
Observe o ambiente onde a prática é feita.
Fique atento às conversas que populam o lugar.
Um lugar onde há qualquer tipo de "leva e traz", possível competição entre alunos para saber quem é o melhor (mesmo que de forma velada), não é um bom ambiente.

E o principal: Discernimento, Discernimento e Discernimento!

Paz e Luz a vocês!

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